sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Desabafo

Não sei se me acostumaria com o viver rotineiro de famílias que querem se sentar num sofá confortável e esquecer de olhar para o sol lá fora.
Não sei ainda mais onde está escrito que devemos ter familia, pais mães, avós, maridos, mulheres, filhos. Pelo que sei já está intrisseco em mim.
Sabe-se que daqui algum tempo o mundo irá acabar. Eu acredito. Mas pra quem?
Sei pouco sobre a vida, mas tenho uma, já é o suficiente.
Não quero saber sobre sentimentos de ciúmes, inveja, divórcio, separação, humilhação, todos ãos estabelecidos por um certo alguém.
Quando sento-me com as pernas cruzadas sinto dor nos joelhos, estou ficando velha.
Esperando a velhisse chegar eu mal a vejo em baixo dos meus pés, pois a velhisse caminha das pontas do dedão até o ultimo fio de cabelo.
Certa vez me perguntaram, o céu é aqui perto? Se é, estamos perdendo tempo com as nossas rinites.
Talvez o mundo não acabe em 1012, mas todo mundo descubra que tem câncer, aí ele acabaria em 2013, mas morreriamos muito antes por perder a esperança na humanidade, ou talvez até nos tornaríamos mais humanos, quem sabe?

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Máscaras

Hoje fiz um caminho idiota. Havia dinheiro para apenas uma passagem.
A passagem anda cara ultimamente. Dois e cinquenta - 2,50.
Em um dia gasto fácil dez reais. Entrei no tubo.
Encontrei alguma coisa seca. Tinha um estado branco e letras garrafais.
Alguns textos de Michel Vinaver. Estudei-os. No último banco de um ônibus lotado e comprido.
Isso significa que tremia muito o fundo do vermelhão.
Ouvindo a insignificante música que ficava marcada na cabeça de todos os passageiros.
Li. Distraidamente. Li. Palavras grudadas que quiseram dizer muito em pouco.
Sentimentos palpáveis foram alcançados. Tantos cheiros.
Gostos. Figurinos. Imagens. Cheiros. Imagens. Gostos.
Rostos.
Muitos.
Estampados em todos os cantos. Num ultimo dizer de adeus.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Poucos modulares em lambes-lambes

Quebra-se o espaço no tempo.
O Guru que visualizou o seu futuro, esteve em dois lugares ao mesmo tempo e se desfez das amarguras e desilusões impressas pela vida, logo, se tornou ser espiritual. Olhos cerrados e dedos presentes, o que tantos atores artistas tentam estudam em alfabetos pré fixados aos moldes tão poucos modulares que é a física.
Um sonho novamente real, pelados, descalços alcançava gozo em nadar golfinhos. Prefixos inscritos dos lambes-lambes da cidade e a abstinência de álcool se conformou com as escritas dos livros de tantas capas emolduradas.
Qual adjetivo forma substantivos definição caberia a algo indescritível.
Tal qual palavras pouco ditas tanto nos muros dos lugares tal pouca explicação há nos lugares e palavras em que pouco podem-se entender muito sentir.

domingo, 28 de agosto de 2011

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Como passarinho de pena aberta, voei logo. Fiz viagem para o mundo do desconhecido. Antes era o chá. Agora foram os médicos. Quatro anos desacordada. Cega. Não estava escrito na bula que perderia a visão, e ficaria cega. Sem poder ver a cor das asas da borboleta. Queria falar, mas não queria. Queria viver, mas não queria. Durante dias vi minha mãe debruçada sobre a cama, chorava. Durante dias ouvi análises clínicas, relatórios médicos, apito de elevador, movimentação de pessoas pra lá e pra cá. Onde quer que estivesse eu não estava ali. Mas meu corpo estava. Escutava cada mínimo detalhe. Conseguia sentir o pano úmido molhando as costas na hora do banho. Sentido apena fisiológico, sem condições de traduzir qualquer sentimento que seja. Fui ímpar. Num dia simplesmente acordei. E já estava de pé. Aos pés da cama, vendo mamãe chorar. Santo milagre. Santa Maria mãe de Jesus que me permitiu voltar a ver-te.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Antiga Comédia Inglesa

"Acasto - Não pode ela falar?
Osvaldo - Se falar é tão-somente fazer ouvir
sons por meio da língua e dos lábios, é aquela
criatura muda, mas se tão maravilhosa faculdade
consiste também em tornar compreensíveis os
menores pensamentos por acionados e expressivos
gestos, pode dizer-se que ela a possui, pois seus
olhos cheios de eloqüência têm uma linguagem
inteligível, embora falha de sons e palavras."

Citada
   Por Walter Scott


 

O missionário

Oi, 

Gostaria de compartilhar um sonho com vocês leitores. 
Tenho grande interesse em conhecer o mundo, e pregar a  palavra de Cristo por onde eu andar. Como muitos amigos já sabem, tenho um chamado de Deus para a Europa. Sou estudante e não terei condições de bancar a viagem. 
Então, peço com toda a humildade que me ajudem a distribuir essa tão linda palavra que tem sido como água purificadora nas nossas vidas. 
Você poderá me ajudar com dinheiro e orações. 
Número da conta: 7777-x 13777-4 Banco do Brasil

Quer ir longe, e não tem dinheiro? 
Jesus iria a pé!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Aos pais

Sou divorciada de um vício. Tanto que me vejo longe, que mal sei o caminho que trilhou. Espero não voltar a tê-lo, pois se fosse possível, desvirginaria algo de tão belo e puro que encontrei pelo caminho.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Criei monstros dentro do armário, para que estes me recriassem.

Criei monstros em baixo da cama, para que estes me sonhassem.

Criei beijinhos na janela, para que estes criassem mandruvás, para que estes me pusessem medo.

Criei ladrões no quintal de casa, para que estes me roubassem de mim mesma.

Criei santos em cima do altar, para que estes me perdoem pelas minhas criações.

Criei Deus, para que este me culpasse e me salvasse, e com isto me desse um motivo para querer viver.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Inocência

"[...] por tal modo viva e perfeita que a imaginação, embora desabusada e prevenida, ergue vôo e lá vai por estes mundos afora a doidejar e a criar mil fantasias [...]"

Visconde de Taunay

sexta-feira, 29 de julho de 2011

De escamas sonho meu
castelo de princesa concedeu

Curitiba

Levo na mala histórias de nós
Poesia de rio
Guarda-chuva do tempo

Levo nos sonhos contos a sós
Abraço de amigo
Umidade do vento

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Esperança

Procurando a perfeição de bailarina, dancei palavras
Estive frente a frente com Leão, em silêncio, no meio de amontoados de morte
Andei com a loucura
Desenhei nas mãos negras, de unhas azuis com a tinta da laje de Nossa Senhora
Forma desenhada de letra poéticamente cantada
Deixe-me só com meus pensamentos, não consigo continuar com você me seguindo
Voz rouca do violão soou na janela iluminada pela lua, no chão virgem de outros passos
Com poeira entre as frestas e vidros transparecendo a mesa de jantar
Ao final do dia com a rede já molhada pela chuva e o sol secando o varal, observei um beija-flor
Beija que chega no vazio dos olhares mornos de cansaço
Me faz mulher, sentir vida, tão viva, tão morna
Escama de verde prateado te fiz desejo
Melodiosa calvagada entre cordas e pandeiros

sábado, 18 de junho de 2011

Vida

Há algum tempo atrás passei por um senhor que sofria de câncer. Ele já não sentia mais o sabor do macarrão, não conseguia mastigar a batata cozida da sopa, e nem ao menos sentir o cheiro de roupa passada que tanto gostava.
Vê-lo me levou a não ignorar a vida, porém um novo câncer surgia.
Essa doença foi degradando cada partezinha do sistema. Sabe, aqueles tipos de doenças que você não consegue reconhecer muito bem o que é, e já nem se lembra mais por onde começou. Uma dor aqui, uma tontura ali, uma indigestão acolá. Os médicos procuram durante tempos, mas essa é uma típica doença incurável. Para encontrar a cura, se é que fosse possível, teria que começar desde de o principio. Embrenhar nas mentes sedentas de fome de viver, de conhecer "a" verdade. Luta esta, para encontra-la onde quer que seja, como quer que seja. E quando se dá conta, a doença já se espalhou.
Ao receber a notícia, normalmente as pessoas choram se atiram à morte, mas ele não. Ele não seria fraco, queria viver. Queria encontrar um caminho que pudesse ao menos descansar. 
A vaidade e orgulho cobriam os olhos, isso já estava moldado no doente, ele era apenas um pobre coitado que não enxergava, que não via a oportunidade surgir, e quando a avistava deixava que a levassem. Como porcos no leito de morte que gritam tanto e você nunca mais consegue esquecer. Como se aquele barulho penetrasse dentro da cabeça e nunca mais quisesse sair, foi assim, descrevia ele. Um pobre professor, usando a vida como se veste moscas as avessas. Enganando a morte. Mostrando os dentes paras as crueldades do desespero.
Já me refazia, e já pensava na vida com mais fervor.
Ah sobre a doença! Não sabia-se mais se era câncer ou alzheimer.
Uma breve descrição da sensação:
Levantando-se logo após um sono da tarde, não reconhecia o lugar onde vivera mais da metade de sua vida. Apalpava a escuridão, e sentia o ar escuro escorrendo pelas mãos magras de sede. Sentiu a maçaneta fria e redonda, abriu a porta de madeira que fazia um som oscilante e grave. Os olhos arderam diante da luz forte do dia, e aos poucos, a cada passo que se passava, lembrava-se de um detalhe, do quadro florido estampado na parede com tintas azuis e brancas, do lustre de cristais que brilhava a cada movimento breve do vento, dos pequenos rostos gravados nas fotografias sobre a estante, e finalmente se lembrou, que estar em casa, não era o que queria lembrar, mas o que devia estar acontecendo. Uma pena.
Pobre homem.
A dualidade foi sua maior táctica. Já não sabia mais onde começava a vida e onde acabava a morte. Onde terminava a vida e onde começava a morrer. Foi-se feito tudo escuridão.
Apenas consegui sentir suas mãos nas minhas, eram ainda macias e aveludadas, gritavam desesperadamente por socorro, seus lábios só pediam tocar os meus. Numa sensação de euforia e desespero permaneci fria. Talvez pudesse ter cedido mais. Ter olhado mais fundo em seus olhos, mas algo naquele senhor me fez congelar, e ficar intacta.
Desde então, respirei o que é sentir a vida, me tornei toda atenção, cada pequeno músculo escrevia um distinto pensamento, teias de tecidos vivos, alegres, penetrantes que só queriam viver.


segunda-feira, 13 de junho de 2011

domingo, 12 de junho de 2011

Caravaggio dorme em molduras nebulosas, pinceladas de luz atravessam as janelas da capela, e em pé na porta sondam os fiéis que com sombras de crucifixos se transformam em mártires.
Caravaggio dorme num sonho pintado a ouro, redescoberto pelos olhos do artista, manipulado pelas mãos de mudos sinos que ostentam os cabelos de Medusa.
Caravaggio dorme, toda a luta pela demonstração celestial, secados em paredes sagradas, emoldurados em solos cléricos.
Caravaggio dorme, e com ele, a grande revolução que já molhou as pontas de um pincel.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Receita de criança

Quando cheguei tarde em casa e vi minha vó na cozinha, encontrei-a pela metade! Metade dentro do armário, metade fora.
- Vó?
Uma voz abafada pelo espaço, rouca pela velhice e fina pela delicadeza respondeu-me:
- Estou procurando os ovos que guardei em baixo da pia!
A sujeira de farinha, fermento, açúcar e canela, mais o tempo frio e amarelado, seria certo que um doce bolinho de chuva borbulharia numa panela quente de óleo daqui alguns minutos.
- Estou fazendo chá e bolinhos. Com certeza estão com fome.
A vovó sempre sabe das coisas. Quando a criança chora, ela sabe (não sei como) que a criança quer laranja. Quando o sol está brilhando e uma pequena nuvem carregada pelo vento passa, ela sabe que vai chover.
Os bolinhos prontos e quentinhos saem do fogo, são misturados com uma camada fina de açúcar e canela. Macios, com uma massinha no meio, pulam pra dentro da boca! Explosões de carinho e afeto são despejados estômago a baixo.
Na ponta dos dedos ainda reluz o açúcar, parecendo areia da praia e o mar são como as lembranças que o tempo faz levar.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Estou

Hoje tive uma vontade louca de me expor, conceder idéias de quem realmente sou, não sendo, ou se sou, será que era? Ou já sou, ainda.

Uma música destoada nas letras, formas de buracos negros e olhos de cristal, rubi dos olhos meus.
Sou animal, instinto carnavalesco, Bacco do reino encantado.
São duas uvas verdes, profundas, me piscam, será que entendem o desespero da dor. Da confusão.
Se é real, porque a sucessão dos fatos não é exposta e marcada pela fita de ouro. Hoje o país evoluiu.
Somos um quanto uma.
Quase movimento instrumental sentimental.
Sou tão Los Hermanos. Romântica excêntrica de uma mundo sem palavras.
Jovem exercida em moldes de concreto.
Desajeito amor, mas ainda estou sua. Estou muda.
Sem jeito, sem viagem, sem sonho.
Sonoplastia num teatro vazio.
Máscara numa peça sem rosto.
Imagem num espelho sem reflexo. 

domingo, 29 de maio de 2011

O Guarani - José de Alencar

"Com efeito, o que exprime essa cadeia que liga os dois extremos de tudo o que constitui a
vida? Que quer dizer a força no ápice do poder aliada à fraqueza em todo o seu mimo; a
beleza e a graça sucedendo aos dramas terríveis e aos monstros repulsivos; a morte horrível a
par da vida brilhante?
Não é isso a poesia? O homem que nasceu, embalou-se e cresceu nesse berço perfumado; no
meio de cenas tão diversas, entre o eterno contraste do sorriso e da lágrima, da flor e do
espinho, do mel e do veneno, não é um poeta?
Poeta primitivo, canta a natureza na mesma linguagem da natureza; ignorante do que se passa
nele, vai procurar nas imagens que tem diante dos olhos, a expressão do sentimento vago e
confuso que lhe agita a alma.
Sua palavra é a que Deus escreveu com as letras que formam o livro da criação; é a flor, o
céu, a luz, a cor, o ar, o sol; sublimes coisas que a natureza fez sorrindo.
A sua frase corre como o regato que serpeja, ou salta como o rio que se despenha da cascata;
às vezes se eleva ao cimo da montanha, outras desce e rasteja como o inseto, sutil, delicada e
mimosa."

Espaço-tempo

Somos formados por uma estrutura física imutável? Moléculas, prótons e neutrons. E o resto, e o tempo? Marcado pelo relógio newtoniano?
Há uma condição no espaço capaz de produzir uma força.
"Espaço-tempo" - não é linear nem absoluto. A linearidade depende do observador. Passado e futuro estão presentes. A matéria é energia desacelerada ou cristalizada.

sábado, 21 de maio de 2011

Engoli aquelas palavras como veneno,
Arrepiou a espinha,
Relaxei as têmporas
No anil luz do dia.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

"Foi um momento de luta terrível entre o espírito e a matéria, entre a força de vontade e o poder da natureza."
O Guarani - José de Alencar

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Obnubilar

Andando com a mente a mil, pensamentos se estruturam em partículas densas, junto ao vapor das sensações. Cores, moldes, moralidades, filosofia do ser, estrutura humana, química, cálculos medidos à regra, formulações entre a realidade e o sonho. Tudo rápido demais até que entra na matrix. Enxuta a modéstia da mente e obnubila. Nada para se arranjar. Delira. Sem fixar um pensamento constante, quase não enxergar  a lousa a sua frente. Muda de espaço. Mais uma vez muda de espaço. Outra vez muda de espaço. Muda de esp. Muda. Mud. Devagar, quase lento chega a conclusões abusivas sobre o próprio ser. Escondendo-se em segredo profundo. Não conhece mais a si mesmo. Lento, quase parando. Se afasta. Concede não apropriar-se, disso ou daquilo.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Balada de um amor doente, palavras de uma amiga sem dente

Demasiadamente fria.
Um som metálico somava ao turbilhão de idéias prestes a explodir. Ainda não sabia onde chegaria com todo aquele sentimento gélido, que cortava a alma. Nem aquela escadaria de mármore mereceria a comparação dura  com que me foram entregues aquelas palavras.
Menina de vermelho com as maçãs do rosto coradas, fivela no cabelo, permitindo que alguns fios corressem soltos pela pele clara. As cores vivas em contraste com a alma doente.
Ainda havia alguns resquícios de suspiro. Algo que te permite ser curiosa o suficiente para permanecer atenta aos próximos capítulos da longa novela.    
Pequena chama refletida no espelho de gelo, ao som dos pratos da bateria mal afinada da Santos Andrade, segue querendo brilhar. Um abraço, um afago para que permaneça viva, fugaz.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Uma sombra de frente pra praia, onde o azul do céu toma forma do azul do mar, e as espumas na areia se confundem com as nuvens no ar. Uma sombra digna de reflexão, de sonhos. Onde casais passam horas em namoro. Senhoras esperando os pescadores. Cachorros dormindo em relaxo. Passarinhos encontram descanso e alívio. 
O que pensar quando se tem uma vista dessas todos os dias? Todos os dias esse mesmo senhor senta-se em baixo da mesma árvore e olha o mesmo mar, o mesmo céu. Quando se cansará disso? Desde pequeno tem um propósito. Sair ao mar.  Desbrava-lo, conhece-lo. Quando a tarde começa e já se foi a pescaria, monta no burro, descarrega de peixe e camarões. Muda de habito, almoça arroz, feijão, salada de alface temperada com cebola e limão, camarão. Chinelo havaiana no pé. Escuta o marulho das ondas e se satisfaz com o brilho  do ar.  






sexta-feira, 1 de abril de 2011

Ímpar

Cem cores vi no arco-íris,
cem libélulas a pairar sobre o ar.
Cem razões para ir,
cem razões para voltar.

domingo, 27 de março de 2011

Caminho vermelho

Fiz caminho inverso, primeiro lá depois cá. Terra seca em caminho vermelho. Via alguns pézinhos de grama morrendo. O sol no final do asfalto. A sombra vinha correndo atrás de mim. Ao meu encontro vinha caminhão de lata quase aos pedaços. Era um pássaro motorizado. Pista de avião na terra vermelha. Assombroso campo, bela visão. Mulequinho querendo brincar com medo da vida, se arrisca. De bike virada pra calçada se assanha ao subir o morro. Quase morro de rir ao cair. Deu tombo. Toma água. Foi sombra de avião na pista vermelha.

domingo, 20 de março de 2011

"Às vezes o formato da minha cabeça me impressiona. Quando vejo a sombra da minha cabeça refletida em uma janela escura de trem, a paisagem passando através dela. Não que o formato da minha cabeça seja incomum ou ... alarmante... mas realmente... me impressiona." - Sarah Kane

sábado, 19 de março de 2011

O peso daquela lágrima foi denso
Um tsunami num risco fino
Enchente na greta do olhar
Um pingo de suor pelo prazer
Um pingo de lágrima pelo pesar

sexta-feira, 11 de março de 2011

Minha casa

Não sentirei falta das roupas secando no varal, nem de esfregar o carpete mofado.
Sentirei saudades do cheiro do bolo de fubá da Laís saindo quentinho do forno.
Da canga aberta no chão em dia de frio, com fio e agulha espalhado pra todo lado.
De chegar alta madrugada embriagada de euforia me mandarem calar a boca.
Dos corredores gelados da Faculdade de Artes do Paraná.
Daquele tempero mineiro de cuidado e afeto, no risoto sagrado onde todos os desgostos são afogados e esquecidos.
E a sobremesa de goiabada...tão suave, tão doce, quase como um ritmo do beatles orquestrada numa caixinha de música.
As terapias em cadeiras de plásticos formam o melhor método aplicado em toda a psicologia.
A poesia dita em cada gesto de atriz, leve, chega generosa de ouvidos, composta por tijolinhos azuis, é de se queixar não ter mais ninguém assim no mundo que supra a necessidade de estar ao lado da suavidade e da força, aposta todos esses ingredientes na massa de bolo.
Como as mãos coloridas, fixadas, pintadas, como os pés, estará marcado, mesmo com tinta branca, com outras pessoas ali, lá estarão as mãos, os pés, assim estarei em casa, para casa, ao estar com vocês.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Atropelamento

Com a pressa de chegar logo, me deixei ir. Sem marcha, sem freio, apenas com a vontade da lei física. Era velocidade máxima. Vento fazendo zumbido no ouvido. Era o olhar reto. O olhar na pista preta. Preto preto da pista. Preto amarelo da pista. Amarelo da faixa na pista preta. Amarelo da faixa no preto do asfalto. Foi corpo lançado ao chão de um lado, automóvel do outro. Primeiro leve torção no dedo, joelho, braço, ombros, orelha raspada na pedra. Com um pulo já está em pé. Continua a jornada. Pega caminho seguro. Nota borboleta amarela. Borboleta amarela no preto da pista com o vermelho do ônibus. Não tem pressa, mas se entrega ao tempo. Borboleta amarela fechada pelo ônibus vermelho no preto da rua. Era borboleta. Era eu. Borboleta amarela. Era faixa amarela no meio da pista.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

De fraqueza

Olhos razos d'água
Fundos vazios
Astor ao fundo em frente ao toque
Como um pássaro perdido
de dedos fugidos no tempo
na lembrança da vida
Que parece jamais recuperar a distância
a frieza encostada no peito
Diz que é a força do cansaço
Viveis a ignorância da disposição
Enérgica cólera de prazer que se afoga no meio das veias azuis
apontada pela cor da pele transparente
te enxergo por dentro
A intimidade do medo compartilhado foi fato não vivido
Lembrado

Tempos de paz

"Eu não vivi. Eu colecionei lembranças."

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Ao tomar para mim parte deste afeto materno, com o qual me inspirei em algumas folhas lavadas a seco de um livro, resolvi escrever a você, Pedro. Estou tomando parte prévia deste texto para não só despencar todas as informações acima de sua cabeça, mais ainda para intimidar o seu ego, e ver até onde poderei chegar com conclusões certas sobre os assuntos que você, sim você, me permitiu tomar todos esses anos em que me deixou sozinha.
Lembra que naquela semana do dia vinte você pensou em vir me visitar mas hesitou? As suas decisões são assim como são os raios nos céus, elas sãos vistas, colocadas em destaque, mas daqui cinco minutos ninguém mais lembra.
A música  que estava tocando no rádio naqueles dias era o som da chuva. Tabuque de terreiro. Era o som da panela de pressão, cozinhando legumes para o jantar. Seu prato prediléto sempre foi a sopa.
Consigo visualizar agora qual foi o grande passo para Maria se entregar a esse jogo, quais transtornos ela não deve ter passado. Dúvidas inquietas.
Te atingir mostrando o que você tem de pior sempre foi algo muito prazeroso para mim, mas o fato de sermos idênticos e eu sempre ver meus defeitos espelhados, me fazia repugnar a ideia de criar nossa filha ao nosso padrão. O que nunca aconteceu. Ela se epelhou em nós.
É desconcertante quando nos vemos falando sozinhos. Preocupante quando respondemos as nossas próprias perguntas. A loucura estava para nós assim como uma massa de panqueca mole está para uma frigideira. Maria não tinha outra opção a não ser acolher ou se livrar totalmente dela. Maria escolheu a segunda.
Estou sendo breve, objetiva e monótona. Não tenho intenção alguma de te escrever um livro ou uma carta sobre o nosso antigo romance que um dia se pareceu com filmes americanos. Procuro uma razão. Um porquê deste caso horrendo. Uma atrocidade, eu diria.
Percebendo não mais ter o controle da situação, salvo o seu diagnóstico de ver fantasmas. Me vi sozinha novamente. Percebi também que não fiquei só a partir do momento em que Maria resolveu tirar a única coisa que tinha de mais valioso. Nem quando você me deixou. Mas permaneci só desde o ínicio. Quando já era alta madrugada, eu sentia um vazio. Não conseguia confiar nem em mim, imagina se poderia depositar essa qualidade em alguém. Mesmo que estivesse do meu lado, ainda continuava sendo um estranho para mim. Sempre entendi confiança como qualidade. E estranheza como indiferença. Dois corpos, nenhuma compatibilidade. A não ser o fato de sermos idênticos em todos os defeitos. Admitimos não ter nada em comum. Eu não era a única que pensava assim em nossa casa.
Note, nossa filha nunca viu valor em nada. Quanto mais na vida. Se é que ela tinha uma.
A solidão insistiu em achar uma vítima, enquanto você insistia em achar uma culpada. Os dois se saíram bem.

Sem mais. Estou sóbria por alguns momentos. Não me arrependerei de mais nada, daqui a uma hora estarei bem.


Ester
De insônia
com olhos arregalados d'água
Dona Velha dos Espíritos contou-me o que preparar

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Estou verde,
meus pés afundaram-se na terra
e criaram raízes.

Silêncio

Descobri em meio as folhas secas do inverno. Enquanto as tempestades estão atissadas, e os vulcões emanam chamas da terra. Onde a lua pega fogo e os cavalos andam a noite. Nesse milharal de pessoas entrando e saindo, indo e voltando, sem métrica alguma descobri. Esse som que vem do vento da escuridão. Que completa o corpo inteiro. Som que chega suave, tem cheiro de azul e anda como bolhas a pairar no céu. Coberto pelo manto escuro e sombrio.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Ele

Ele é cor do céu de hoje
É o suspiro dado ao ver um arco-íris
É como um pingo de chuva
que ao ver cair um, você sempre espera o próximo
o próximo, o próximo
É uma música da Rita Lee
personagem do meu mundo de memórias

sábado, 8 de janeiro de 2011

O encontro das bicicletas

Havia três instrumentos metalizados, algo entre aço inox e latão, o que realmente importava é que tinham estilo. Caçoavam de quem andasse na rua. Uma hora descançavam na sombra, outra hora borbulhavam de alegria de baixo da chuva que caía.
Seus sinais eram de porte, quase um leão. Isso quando não era pavão ou peru.
Os olhos astigmatas precisavam chegar bem perto para ver, mas sem incomodo algum, eram nascidos para brilhar e serem vistos, de longe, de perto, de 2, de 3 ou até de 4.
Dois brutamontes chegaram e foram logo arredando a corda amarrada ao pescoço de dois deles, que ali estavam parados. A terceira, era pequena, quase a Sininho do Peter Pan. Tiraram os tais ferros, armadilhas armadas e logo as deixaram em liberdade.
Sol e chuva, casamento de viúva. Foi logo se encaminhando para o asfalto preto, escuro do molhado que pingava. Escorregadio da luz do dia.
Opa! A Giant! É uma amiga próxima, um pouco mais velha, mais bicho do mato, mas uma delícia de sedução! Com o mesmo desempenho de muitas atuais que existem por aí, talvez exista até, um pouco mais de paixão pelos que a conhecem bem.
Era um encontro a quatro.
"A mocinha quer uma ajuda?"
Gostamos de ar. Nada da moda. Cigarro para três, por favor. Muito obrigada. Mesa 17. Sem movimento. Tem que usar shorts.
"Ei depois você me fala qual é o melhor caminho!"
Como se algum dia fossemos nos encontrar de novo. Parada. Na esquina. De mãos dadas. Com mais Três.