domingo, 29 de maio de 2011

O Guarani - José de Alencar

"Com efeito, o que exprime essa cadeia que liga os dois extremos de tudo o que constitui a
vida? Que quer dizer a força no ápice do poder aliada à fraqueza em todo o seu mimo; a
beleza e a graça sucedendo aos dramas terríveis e aos monstros repulsivos; a morte horrível a
par da vida brilhante?
Não é isso a poesia? O homem que nasceu, embalou-se e cresceu nesse berço perfumado; no
meio de cenas tão diversas, entre o eterno contraste do sorriso e da lágrima, da flor e do
espinho, do mel e do veneno, não é um poeta?
Poeta primitivo, canta a natureza na mesma linguagem da natureza; ignorante do que se passa
nele, vai procurar nas imagens que tem diante dos olhos, a expressão do sentimento vago e
confuso que lhe agita a alma.
Sua palavra é a que Deus escreveu com as letras que formam o livro da criação; é a flor, o
céu, a luz, a cor, o ar, o sol; sublimes coisas que a natureza fez sorrindo.
A sua frase corre como o regato que serpeja, ou salta como o rio que se despenha da cascata;
às vezes se eleva ao cimo da montanha, outras desce e rasteja como o inseto, sutil, delicada e
mimosa."

Nenhum comentário:

Postar um comentário