sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Como passarinho de pena aberta, voei logo. Fiz viagem para o mundo do desconhecido. Antes era o chá. Agora foram os médicos. Quatro anos desacordada. Cega. Não estava escrito na bula que perderia a visão, e ficaria cega. Sem poder ver a cor das asas da borboleta. Queria falar, mas não queria. Queria viver, mas não queria. Durante dias vi minha mãe debruçada sobre a cama, chorava. Durante dias ouvi análises clínicas, relatórios médicos, apito de elevador, movimentação de pessoas pra lá e pra cá. Onde quer que estivesse eu não estava ali. Mas meu corpo estava. Escutava cada mínimo detalhe. Conseguia sentir o pano úmido molhando as costas na hora do banho. Sentido apena fisiológico, sem condições de traduzir qualquer sentimento que seja. Fui ímpar. Num dia simplesmente acordei. E já estava de pé. Aos pés da cama, vendo mamãe chorar. Santo milagre. Santa Maria mãe de Jesus que me permitiu voltar a ver-te.

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