terça-feira, 9 de novembro de 2010

Bicicleta

Primeira impressão, há a indiferença, a estranheza. Conserva seu estado de distância. És dominador. Como um bicho doméstico a coloca em meio a ferros, armadilhas armadas, correntes engraxadas por um óleo preto, como o que existe em você, pensa. Intimida a a sua peculiaridade. Você sempre pensa. Se mete a reconhecer os estados de sua flexibilidade. Às vezes com força brutal, ás vezes com certa delicadeza, mas sempre com a impulsão de quem tem um destino traçado. Já se tornou sua distração. Te traz prazer. Tem um certo reconhecimento de ambas as partes. Estão quase um. Um meio fio, um risco no chão, um pedestre que nunca olha pra frente. Um sol, um estado, um clima, um tempo. Um no prazer de estar só, estar um. Os trajetos já eram traçados, teias de destino que se desenrolam pelo preto do asfalto, você. Pensa. O embalo. Gira, gira, gira, gira, gira, gira, gira , gira...o sinal! Gira, gira, gira! Permanece no ritmo, rápido apressado. Aumenta a altura. Diminui a força. Diminui a velocidade. Aumenta o prazer. O sangue circula cada vez mais pelo seu corpo, vai dominando cada parte dele. Sua virilha em prantos relaxa. Se solta num estado de satisfação. De orgulho por estar quase lá. Seu sangue passa pelas pernas. Não se queixa, está quase no ápice. O embalo não te satisfaz mais, precisa de força. Integridade. O sangue chega aos dedos da mão e isso te excita. Esqueça as cãibras. Sua missão está por se fazer completa. Aaaaaa! Solta um grito. Leveza. O vento no rosto te faz lembrar da vida que ainda existe dentro. O preto do asfalto. O sangue chega à cabeça. Lateja. O crânio em constante movimento. Pequeno. Grande. Pequeno. Grande. Ah o prazer. Ah a ressaca. Lembra de correr. Suas pernas já não correspondem ao seu cérebro. Cai o seu reinado. Está em casa. Já não tem poder para domina-la mais. Se tornou maior. Mais poderosa, consegue controlar suas sensações e emoções. Sem se dar conta você se entregou. E agora, ao chegar, ao se dar conta, renega. Se esfola. A culpa não foi sua, foi dela. Sangra. A culpa não foi sua, foi dela. Volta ao quarto escuro. Quadrado. Pequeno. Úmido. Vazio. Volta ao seu lugar. Chegaram juntos ao destino.

Um comentário: